Miriam Bevilacqua
Literatura, Comunicação,Educação
A COR PÚRPURA
A Cor Púrpura, o filme de 1985, dirigido por Spielberg e que levou a atriz Whoopi Goldberg ao estrelato é baseado em um livro muito bom de mesmo nome, lançado em 1982. A escritora americana Alice Walker ganhou o prêmio Pulitzer com essa obra.
O livro é construído em forma de cartas que contam o dia a dia de uma negra pobre nos Estados Unidos, entre 1900 e 1940. Quem escreve as cartas é Celie, que foi violentada aos 14 anos, por quem ela acreditava ser seu pai, mas que, na verdade, era o seu padrasto. Com ele, ela teve dois filhos que o padrasto levou para serem dados à adoção. Celie também é obrigada a se casar com Albert, ou Sinhô como Celie o chamava, um homem bruto, e que era apaixonado por outra mulher, a cantora Shug.
Celie começa escrevendo as cartas para Deus, porque o padrasto havia dito a ela que só contasse para Deus o que tinha acontecido entre eles. Mas quando descobre que sua irmã caçula, a Nettie, que havia fugido do padrasto, estava viva, ela também passa a lhe escrever. Durante anos, Nettie sempre havia escrito para a irmã, mas o Sinhô escondia as cartas de Celie, por pura maldade. Nettie havia viajado com uma família de missionários para a África. Então, a partir de um determinado momento da história, Celie passa também a lhe escrever e a receber suas cartas que mostram a vida dos negros missionários na África.
Celie é uma mulher submissa, sem atrativos físicos e que por isso mesmo e por todos os maus-tratos que sofreu, não tem muito autoestima e suporta tudo que o marido lhe impõe, sem se rebelar. Até o momento em que ele traz Shug, sua amante doente, para casa, para cuidar dela. Ao contrário do que se poderia esperar, Celie se encanta com a cantora e, como o marido, também se apaixona por ela.
No começo, Shug a trata como empregada, mas, aos poucos também vai gostando daquela mulher simples de alma tão generosa e passa a defendê-la, fazendo com que seu amante, o marido de Celie, passe a não bater nela e lhe tratar com alguma dignidade.
Através das cartas, conhecemos o relato de uma vida muito sofrida, que nos mostra como era difícil ser mulher naquela época. A mulher era uma propriedade dos homens e como tal podia ser espancada e ter de obedecer a todas as ordens. Mostra também como as primeiras mulheres a ser rebelar e querer sair do jugo masculino eram tidas como loucas ou como vadias, até mesmo por outras mulheres. Além disso, eram mulheres negras sem oportunidade e que estavam o tempo todo sendo tratadas como empregadas.
O que eu gosto muito em A Cor Púrpura é como nós podemos perceber, enquanto leitores, o crescimento da autoestima de Celie através do amor e da convivência com Shug e como isso opera uma mudança drástica na vida dela, passando a viver longe do marido e sem depender de homem nenhum. Alcançando a tão sonhada paz de espírito.
Enquanto vamos acompanhando a história de Celie, o pano de fundo vai nos fazendo refletir sobre o racismo, a situação da mulher, a luta de poder do forte e do rico sobre o mais fraco, sobre o pobre. Como eu disse antes, justamente por serem cartas, ou seja, gênero epistolar, nosso envolvimento com a leitura é grande, como se o tempo todo nós estivéssemos lendo cartas verdadeiras de alguém, a que tivemos acesso.
Alice Walker, a escritora, como sua protagonista, também é uma mulher negra que sofreu a segregação social e o racismo que sempre existiu e ainda existe no Sul dos Estados Unidos. Ela teve oportunidade de estudar e casou-se com um advogado que era branco, o que foi um escândalo na época, no estado do Mississipi onde viviam, e por isso o casal foi perseguido, inclusive, pela Ku Klux Klan, essa organização de malucos que mata negros.
Uma curiosidade é que a autora acredita no espiritismo, se diz médium e agradece aos espíritos no início do livro.
E por que cor púrpura? Porque púrpura não é uma cor qualquer, é um vermelho quase roxo e que era usada nas vestimentas dos reis, como símbolo de poder. É a cor preferida de Celie, o que é bastante simbólico, à medida que Celie vai sendo empoderada de sua própria vida.
Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=elLDFN67QHk
FICHA TÉCNICA
Título Original – The Color Purple
Edição Original – 1982
Edição utilizada nessa resenha – 2021
Editora José Olympio – Rio de Janeiro
Número de páginas – 336