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           EVA LUNA

             A obra da escritora Isabel Allende tem inúmeros aspectos positivos. Creio que ela sabe dosar bem os elementos e ter uma escrita que é, ao mesmo tempo, prazeroza, mas também aborda aspectos importantes tanto da política como do que é importante para o ser humano, de forma universal. A política aparece como pano de fundo em vários de seus livros, mas não é o mais importante em suas histórias. Isabel foi muito marcada pela política do Chile, seu país de nascimento. Aliás, ela nasceu no Peru, mas como seu pai era um diplomata a serviço do governo chileno, sua nacionalidade é chilena.

          Seu pai era primo de Salvador Allende, ex-presidente do Chile, e que foi deposto por um golpe militar, em 1973, e assassinado. Obviamente, a família de Isabel teve de se exilar. Ela mesmo, como jornalista, teve ameaças de morte e se exilou na Venezuela por 13 anos. Desta forma, a experiência da política e do exílio vão marcar sua vida e sua literatura.

          Isabel tem um ritual. Ela começa a escrever um novo livro todo dia 08 de janeiro, exatamente como fez quando, em 1981, começou a escrever seu primeiro e mais famoso livro A Casa dos Espíritos. A escrita pode durar um ano, dois, três... não importa. Essa disciplina faz com que ela tenha uma obra bem grande, de inúmeros romances e é atualmente a mais importante escritora em língua espanhola.

              Eva Luna é um de seus primeiros romances, publicado em 1987. E por que Eva Luna? Porque tem todos os elementos citados acima. Em um país da América Latina, uma menina, filha de uma empregada doméstica, cresce meio ao Deus dará quando sua mãe morre e ela tem de aprender rapidamente a se virar sozinha. Realidade que como sul-americanos, conhecemos muito bem.

            Essa menina chama-se Eva, um nome simbólico, a mãe de todas as mulheres. E quando Eva nasce, a parteira improvisada diz: “- Mau sinal, é fêmea.” O que já demonstra a posição tão desvalorizada da criança, em uma sociedade machista, pois, além de pobre, é mulher.

          Para completar, a mãe de Eva, que não tinha sobrenome, resolve dar à filha o sobrenome de Luna, que significa lua em espanhol, porque o pai da criança era um índio da tribo dos filhos da Lua e, mais uma vez, Luna não é por acaso, graças à simbologia que a palavra Lua carrega.

        Ainda na infância, Eva vai conhecer um menino de rua chamado Huberto Naranjo que, como tantos meninos de rua das principais cidades sul-americanas, vai viver de pequenos golpes até que se torna um dos principais líderes da guerrilha contra os militares que dominam o país. Esses grupos de jovens guerrilheiro idealistas, que lutaram contra tantas ditaduras sul-americanas nas décadas de 70, é uma realidade que Isabel Allende soube retratar muito bem em Eva Luna. Além disso, ela fala também da censura à imprensa e como é difícil viver em uma ditadura, em que os direitos dos cidadãos são ignorados. Mas, como já dito antes, tudo isso é pano de fundo para a história da personagem principal, Eva Luna.

         E, coincidentemente, qual o grande talento de Eva Luna? Contar histórias. Exatamente como a escritora Isabel Allende.

            Eva Luna é um dos clássicos da obra da premiada escritora chilena e, apesar de já ter mais de três décadas, ainda continua muito atual.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=qEgCY1GU6Rc

FICHA TÉCNICA

 Título Original – Eva Luna

Edição Original – 1987

Edição utilizada nessa resenha: 1995

Editora: Bertrand – Rio de Janeiro

Páginas: 328

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