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FAHRENHEIT 451

          Pouca gente sabe o que significa Fahrenheit 451 e por que esse livro de nome tão estranho, do escritor Ray Bradbury, está em quase todas as listas de críticos literários como um dos melhores livros de todos os tempos.

          Vou começar falando sobre a edição da Biblioteca Azul que é uma subdivisão da Editora Globo porque, além de ser capa dura, bonita, com um papel de boa gramatura, ainda traz as diversas capas que o livro teve em vários países desde seu lançamento. Entretanto, o que é ainda mais importante são os textos extras, seja do próprio autor, como o prólogo que ele fez para a edição de 1993, contando como foi o processo de criação, seja de escritores importantes falando sobre o livro, ou sobre o impacto que o livro teve quando eles leram, como Neil Gaiman de Sandman e Margareth Atwood do Conto da Aia. Além de um texto de Jonathan Eller, diretor do Centro de Estudos sobre Ray Bradbury na Universidade de Indiana que tem um enorme conhecimento sobre o autor e sobre essa obra, e, por fim, um texto do diretor de cinema François Truffaut que dirigiu Fahrenheit 451 para o cinema.

            Assim, essa edição se sobressai porque ela é muito mais rica em conteúdo do que uma edição comum.

          O livro foi publicado em 1953 e a história foi ambientada em um futuro não muito distante, mas completamente distópico em que as pessoas eram proibidas de ter ou de ler livros. Era uma sociedade que vivia para consumir entretenimento leve pelas telas que existiam nas paredes das casas. Ficavam tanto tempo entretidas que simplesmente não pensavam mais. Como afirmou o próprio Bradbury, a história era uma crítica à televisão porque quando ficamos horas e horas na frente da telinha, simplesmente não produzimos, não pensamos, não fazemos nada inteligente. Consumimos o que vem pronto sem qualquer questionamento.

          Mas é claro que o livro vai além. Porque na história os livros eram destruídos por bombeiros que, ao invés de apagar fogo, justamente ateavam fogo nos livros. As pessoas que tinham livros eram denunciadas por outras que chamavam o corpo de bombeiros que também colocavam fogo na casa junto com os livros.

          Logo no início do romance, o bombeiro Montag, o protagonista que até então jamais questionou seu trabalho, tem contato com uma jovem chamada Clarice. O que chama a atenção de Montag é que a adolescente age muito diferente do resto das pessoas. Clarice gosta de passear sozinha pelas ruas, gosta de conversar, de observar e tem curiosidade, coisas que as pessoas já não faziam mais. Além disso, quando passam na frente da casa da jovem, Montag se surpreende porque a casa está toda iluminada e Clarice lhe diz que é porque seus pais e seu tio estão conversando. E isso é surpreendente porque a maioria das casas está apagada. Apagadas para enxergar melhor as telas das paredes.

          Outro fato que também muda sua rotina é que, ao chegar em casa, sua mulher Mildred está quase morta, pois havia tomado uma dose enorme de soníferos. Como há muitas tentativas de suicídio como essa, aquela sociedade tem, inclusive, um serviço em que eles trazem uma máquina, limpa o estomago e troca o sangue. O que é mais estranho é que no dia seguinte, Mildred não tem qualquer lembrança de que havia tentado se matar porque era comum as pessoas ficarem dopadas.

          Por fim, um último fato estranho ao dia a dia é que Montag é chamado para pôr fogo em uma casa, mas a proprietária é uma velha senhora que se recusa a abandonar seus livros e morre queimada junto com eles.

          Todos esses três fatos acontecem praticamente juntos e faz com que Montag fique muito curioso a respeito dos livros. Afinal, o que tinha nesses livros que era necessário queimá-los? Esse momento é um verdadeiro despertar de consciência para o personagem.

          Claro que eu não vou continuar para não dar spoiler, mas o livro todo é uma crítica à alienação das pessoas, ao estado totalitário que decide o que as pessoas podem ou não podem fazer, e obviamente, à censura. Mas também é uma declaração de amor aos livros, e que nos toca profundamente.

          Gosto de um trecho em que Montag conversa com outro personagem, o professor Faber, a respeito dos livros e de seus autores e Faber diz:

      “Os bons escritores quase sempre tocam a vida. Os medíocres apenas passam rapidamente a mão sobre ela. Os ruins a estupram e a deixam para as moscas. Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida.”

          E ainda completa.

         “Os livros servem pra nos lembrar quanto somos estúpidos e tolos. A maioria de nós não pode sair correndo por aí, falar com todo mundo, conhecer todas as cidades do mundo. Não temos tempo, dinheiro ou tantos amigos assim. As coisas que você está procurando estão no mundo, mas a única possibilidade que o sujeito comum terá de ver noventa e nove por cento delas está num livro.”

          Exatamente isso. Os livros nos permitem viver outras vidas, o que é um enorme aprendizado de empatia.

           E o que significa Fahrenheit 451? Essa é justamente a temperatura em que o papel entra em combustão, ou seja, pega fogo e por isso o título do livro. O número aparece no uniforme dos bombeiros junto com uma salamandra, já que na mitologia acreditava-se que as salamandras eram imunes ao fogo.

          Uma curiosidade é que o livro nasceu primeiro de um conto chamado O Bombeiro e chegou a ser publicado nas primeiras edições da revista Playboy. Sua grande influência foi o livro O Zero e o infinito, de Arthur Koestler, que também vale a pena ser lido.

Vídeo-resenha: https://www.youtube.com/watch?v=yFMr-0seDYQ

FICHA TÉCNICA

Título Original – Fahrenheit 451

Edição Original – 1953

Edição utilizada nessa resenha: 2022

Editora - Biblioteca Azul/Editora Globo

Páginas: 271

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